sábado, 5 de fevereiro de 2011

Entre o prisma e a esfera de vidro

Nunca consigo falar bem de mim mesmo, e as vezes me cobro a sinceridade, humildade e inteligência que vejo em fazê-lo com uma dose grande de verdade. Eu me considero uma pessoa de sorte, por achar que sortudo é aquele que tem algo que não fez por onde conseguir. De certa forma, aquele que tem o que não merece.
Tem gente que sim, mas eu não gosto de mim. Nem um pouco, nem por um lado muito específico, e não intendo aqueles que conseguem. Muitas vezes, é desesperador pensar algo sobre si, ouvir e ser convencido pelas pessoas que você está errado e, logo depois, olhar melhor e se achar certo novamente. Existe um desejo muito grande de ir pela cabeça dos outros, quando é só você que se cobra. Eu me sinto um ladrão de amizades nessas horas.
Sabe, ao falar de si mesmo é dificil não ser sentimental, melodramático por uma questão simples de perspectiva. Para outras pessoas, é impossivel ser humilde. Essas decidiram usar os olhos alheios com espelho. Não os julgo, é um jeito muito bom de se ver.
É compreensivel se sentir profundamente injustiçado quando um pequeno erro faz com que pareçam totalmente errados, quando um só vacilo os tira todo o valor, mas quando falam de si mesmos, fazem exatamente isso ao contrario: usam pequenas vitórias para se definirem como vencedores. Aqui, eu tento não fazer nenhum, nem outro. Muito menos colocar defeitos e qualidades numa balança. Para mim, o que vale aqui é minha essência. O quanto eu sei que não sou corajoso, sem tentar contar quantas vezes eu corri de medo. Consegue ver a diferença? Como quando o jogador que joga melhor e o jogador que vence não são os mesmos. E me perdoem a prepotência, mas eu conheço muito bem meus defeitos. Taí uma qualidade minha. E eu me esforço para ser humilde de fato. Não sou o melhor nisso, mas me esforço. Já são duas qualidades.
Eu acredito muito que uma ótima forma de viver é calado, quieto, de olhos bem abertos e de costas para os espelhos, mas não tive a sorte de ser assim, e faço tudo ao contrario. A gente tem algumas sortes na vida que acabam se mostrando um grande azar, e o contrario também. Eu tive muito dos dois.
O grande problema de se achar um sortudo e não saber conviver com isso é a maldita vontade de fazer justiça, e querer escapar da sorte grande. Por exemplo, tenho vontade, as vezes, de me autodestruir. Me tornar tão podre para os outros quanto me sinto por dentro, para que me vejam como eu me vejo, e então poder ficar em paz, sentindo todo o ódio e asco das pessoas que me amaram um dia. Deixar de fingir tanto, de ser um sortudo e ser alguem visto como deve ser visto. Justiça.
Podem me chamar de ingrato a vontade, não me importo. Se não sentem o que sinto, não sabem a culpa que se sente por se ser profunda e completamente normal, quando lhe olham como se fosse alguem que valesse a pena. A gente quer sempre ser melhor ou maior para os outros, eles esperam que você cresça, evolua, e veja só, eu não sou nem o que pensam, como vou melhorar além disso?
O mundo é dos espertos, não meu. Eu odeio pessoas que enganam outras, e odeio a mim. Me perdoe o drama. Só tentei ser sincero.

Um comentário:

Flávia Costa disse...

Gostei muito do texto, especialmente dos quatro últimos parágrafos. Ficou muito peculiar...

"Se não sentem o que sinto, não sabem a culpa que se sente por se ser profunda e completamente normal, quando lhe olham como se fosse alguém que valesse a pena".

Exatamente...